Para descansar as pernas do treino do dia anterior, fui andar de bicicleta. Passei por uma zona florestal e subi a um ponto alto onde pude ver o nevoeiro que cobria algumas partes do vale. Naquela simples observação senti que estava no Caminho de Santiago. Não sei explicar racionalmente o que me levou a saber isso, mas eu sabia. Eu nunca fiz os caminhos de bicicleta, o que por si só seria uma novidade. É interessante recordar as inúmeras experiências que tive nos caminhos que já fiz: Caminho Francês, Português, Primitivo (na fotografia) e Inglês. No próximo ano farei o Caminho de Torres que começa em Salamanca.
Andar a pé durante 7, 15 ou 28 dias é uma excelente forma de as pessoas se conhecerem porque não há distracções que as afastem de si mesmas. Tudo se resume a caminhar, comer e dormir. É comum observar no caminho pessoas que se querem afastar de si próprios(as) porque vão concentrados(as) em ouvir música com ou sem auscultadores ou ligados á tecnologia de várias formas. Nestas situações pude observar que estão em grande sofrimento porque recusam-se a ver o presente. É natural que hajam assim. A maioria foi ensinada a afastar-se da tristeza e das emoções em geral. O problema é que quando as pessoas não se permitem sentir as emoções, sejam elas quais forem, elas tornam-se mais presentes em vez de desaparecerem e o ciclo repete-se vezes sem fim.
O sofrimento que daí advém pode ser causado por terceiros ou autoimposto. Em qualquer um dos casos é importante analisar se não foi o próprio, que por acções ou palavras desencadeou “algo” no outro – é o que acontece na maioria das vezes – mas normalmente diz-se que a culpa foi dos outros. Nas relações humanas a grande parte dos conflitos surge como reacção a algo aparentemente inocente que se disse ou fez. Existe uma dificuldade cada vez mais acentuada das pessoas dizerem o que sentem com frontalidade e compaixão. Em vez disso preferem dedicar-se às suposições e expectativas, o que vem criar um fosso ainda maior entre as pessoas. A solução passa por haver um entendimento de si mesmo porque é nesse conhecimento que cresce a compreensão do outro. É um caminho que se faz caminhando. Um abraço, Rui sousa
